5ª Semana de Cinema Português em Matucana 100 (edição virtual)
Em mais de uma ocasião, o cinema foi pensado como uma grande máquina de sonho coletiva. Essa metáfora, tão clara como poética, implica que parte do imaginário, os ideais e valores de uma sociedade são capturados no cinema que se faz, mas não de uma forma tangencial e alegórica. Raramente isto é mais palpável como num contexto de mudança e convulsões.
Após um 2020 em que as obras audiovisuais enfrentaram o desafio de repensar as suas formas de produção, circulação e exibição, e os eventos cinematográficos incorporaram novas dinâmicas para aproximar os filmes dos seus públicos, a programação da 5ª Semana de Cinema Português é definida - talvez ainda mais intensamente do que em outras edições - pela vocação de oferecer um amplo panorama de um cinema dinâmico e estimulante, que reflete sobre o presente, interroga o passado e projeta ideias provisórias sobre possíveis futuros. Novos conceitos, novos normais, novas-velhas normalidades, novos usos de palavras que se tornam obsoletas todos os dias, atravessam a vida de todos. Nesta 5ª edição, a associação VAIVEM aposta na resignificação de alguns destes slogans como uma resposta vital a este 2021.
A programação está dividida em várias seções. O seção Hay más mareas que marineros (Há mais marés do que marinheiros), que tem o seu nome a partir de um relato popular português no ano das celebrações relacionadas com a circum-navegação de Magalhães. Essa seção foi pensada por Miguel Valverde, diretor do Festival Internacional IndieLisboa, e reflete a estreita relação que os cineastas portugueses tantas vezes têm desenvolvido com o mar. Um convite à aventura e uma promessa de novos mundos, o oceano funciona nestes filmes como um motor narrativo (Wakasa, José Manuel Fernandes; Balou, Gonçalo Tocha) que põe as personagens em movimento (Para Além das Montanhas, Aya Koretzky) mas também como um espaço poético em que a emoção e a introspeção aparecem, invocadas pela beleza ou pela força indomável da natureza.
A variedade - tão eclética quanto heterogénea - representada pelos filmes da seção Panorama é prova suficiente da vitalidade do cinema português contemporâneo, do seu vigor e do seu permanente estado de evolução. Aí coexistem o espírito pop, quase onírico e despreocupado de Diamantino de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, que abre esta edição - uma fábula moral sobre um jogador de futebol de elite que sonha com cachorros e se deixa apanhar numa teia de intrigas, espiões e partidos políticos nacionalistas - com a sobriedade poética de Sacavém de Júlio Alves, um documentário que explora o processo criativo de um dos mais importantes realizadores portugueses no cinema de autor internacional: Pedro Costa.
Poucos filmes condensam com tanta naturalidade, charme e coragem, a mistura de géneros e tons proposta pelo cinema contemporâneo como Technoboss de João Nicolau (que participa numa conversa com Lautaro García Candela em colaboração com a revista La Vida Útil). Porque a vida quotidiana de um homem próximo de se reformar pode tornar-se um musical - com canto e dança incluídos - no qual o amor irrompe como esperança e um sopro de vida.
A sempre cativante filmografia de Rita Azevedo Gomes continua a expandir-se e Danças Macabras, esqueletos e outras fantasias, a sua última longa-metragem - co-dirigida com Pierre Léon e Jean-Louis Schefer - é um documentário que, baseado numa série de pinturas da Idade Média, reflete sobre a natureza da imagem, a representação e os processos de estudo e aprendizagem.
A seção é completada com três dos últimos filmes da realizadora Teresa Villaverde, a longa-metragem O Termómetro de Galileu e duas curtas-metragens: Six Portraits of Pain e Oú en êtes-vous, Teresa Villaverde? Três títulos que mostram a sua faceta como documentarista, menos conhecida e longe da poética desoladora que marcou os seus filmes dos anos 90, mas que mostram o seu território actual em que "estas formas de cinema, que se misturam com a vida, interessam-me cada vez mais", como também diz a Lautaro García Candela e a Ramiro Sonzini para La Vida Útil numa conversa imperdível, onde a realizadora revela a densidade e a respiração por trás dos seus filmes, com um olhar reflexivo e sensível. Todas as conversas e atividades especiais desta edição estarão disponíveis na Videoteca VAIVEM (www.vaivem.com.ar/videoteca).
Esta edição da Semana de Cinema Português é completada com uma seção que já faz parte da identidade do evento, que define a sua marca e define a sua programação: a seção dedicada ao Pós-Colonialismo. Três longas-metragens incisivas que lançam luz sobre as cicatrizes que as experiências colonialistas deixaram na identidade nacional, e que ainda determinam as pessoas e a organização social. Dois documentários e uma ficção; Sonhámos um País de Camilo de Sousa e Isabel Noronha, que recorda com material de arquivo e testemunhos em primeira pessoa a utopia revolucionária dos anos 70 em Moçambique e a subsequente desilusão; Guerra de José Oliveira e Marta Ramos, sobre um ex-combatente assombrado por fantasmas do seu passado, que tenta seguir em frente com a sua vida enquanto carrega as memórias do horror; e finalmente, O Fim do Mundo por Basil da Cunha, uma ficção encarnada por não-actores, que tem em conta as idiossincrasias do desenho urbano de Lisboa e dos seus bairros marginalizados, onde os vestígios deixados por anos de desigualdade ainda se perpetuam. Os directores puderam também encontrar-se numa conversa com o pós-colonialismo como eixo, moderado por João Ribeirete, responsável pelos assuntos culturais na Embaixada de Portugal.
Será uma atividade com um filme português por dia, aberto à descoberta e à viagem, que funcionará como um convite para explorar um dos mais ricos panoramas do cinema contemporâneo.
Mais informação (em espanhol) disponível em: www.m100.cl/programacion/cine-portugues/
Após um 2020 em que as obras audiovisuais enfrentaram o desafio de repensar as suas formas de produção, circulação e exibição, e os eventos cinematográficos incorporaram novas dinâmicas para aproximar os filmes dos seus públicos, a programação da 5ª Semana de Cinema Português é definida - talvez ainda mais intensamente do que em outras edições - pela vocação de oferecer um amplo panorama de um cinema dinâmico e estimulante, que reflete sobre o presente, interroga o passado e projeta ideias provisórias sobre possíveis futuros. Novos conceitos, novos normais, novas-velhas normalidades, novos usos de palavras que se tornam obsoletas todos os dias, atravessam a vida de todos. Nesta 5ª edição, a associação VAIVEM aposta na resignificação de alguns destes slogans como uma resposta vital a este 2021.
A programação está dividida em várias seções. O seção Hay más mareas que marineros (Há mais marés do que marinheiros), que tem o seu nome a partir de um relato popular português no ano das celebrações relacionadas com a circum-navegação de Magalhães. Essa seção foi pensada por Miguel Valverde, diretor do Festival Internacional IndieLisboa, e reflete a estreita relação que os cineastas portugueses tantas vezes têm desenvolvido com o mar. Um convite à aventura e uma promessa de novos mundos, o oceano funciona nestes filmes como um motor narrativo (Wakasa, José Manuel Fernandes; Balou, Gonçalo Tocha) que põe as personagens em movimento (Para Além das Montanhas, Aya Koretzky) mas também como um espaço poético em que a emoção e a introspeção aparecem, invocadas pela beleza ou pela força indomável da natureza.
A variedade - tão eclética quanto heterogénea - representada pelos filmes da seção Panorama é prova suficiente da vitalidade do cinema português contemporâneo, do seu vigor e do seu permanente estado de evolução. Aí coexistem o espírito pop, quase onírico e despreocupado de Diamantino de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, que abre esta edição - uma fábula moral sobre um jogador de futebol de elite que sonha com cachorros e se deixa apanhar numa teia de intrigas, espiões e partidos políticos nacionalistas - com a sobriedade poética de Sacavém de Júlio Alves, um documentário que explora o processo criativo de um dos mais importantes realizadores portugueses no cinema de autor internacional: Pedro Costa.
Poucos filmes condensam com tanta naturalidade, charme e coragem, a mistura de géneros e tons proposta pelo cinema contemporâneo como Technoboss de João Nicolau (que participa numa conversa com Lautaro García Candela em colaboração com a revista La Vida Útil). Porque a vida quotidiana de um homem próximo de se reformar pode tornar-se um musical - com canto e dança incluídos - no qual o amor irrompe como esperança e um sopro de vida.
A sempre cativante filmografia de Rita Azevedo Gomes continua a expandir-se e Danças Macabras, esqueletos e outras fantasias, a sua última longa-metragem - co-dirigida com Pierre Léon e Jean-Louis Schefer - é um documentário que, baseado numa série de pinturas da Idade Média, reflete sobre a natureza da imagem, a representação e os processos de estudo e aprendizagem.
A seção é completada com três dos últimos filmes da realizadora Teresa Villaverde, a longa-metragem O Termómetro de Galileu e duas curtas-metragens: Six Portraits of Pain e Oú en êtes-vous, Teresa Villaverde? Três títulos que mostram a sua faceta como documentarista, menos conhecida e longe da poética desoladora que marcou os seus filmes dos anos 90, mas que mostram o seu território actual em que "estas formas de cinema, que se misturam com a vida, interessam-me cada vez mais", como também diz a Lautaro García Candela e a Ramiro Sonzini para La Vida Útil numa conversa imperdível, onde a realizadora revela a densidade e a respiração por trás dos seus filmes, com um olhar reflexivo e sensível. Todas as conversas e atividades especiais desta edição estarão disponíveis na Videoteca VAIVEM (www.vaivem.com.ar/videoteca).
Esta edição da Semana de Cinema Português é completada com uma seção que já faz parte da identidade do evento, que define a sua marca e define a sua programação: a seção dedicada ao Pós-Colonialismo. Três longas-metragens incisivas que lançam luz sobre as cicatrizes que as experiências colonialistas deixaram na identidade nacional, e que ainda determinam as pessoas e a organização social. Dois documentários e uma ficção; Sonhámos um País de Camilo de Sousa e Isabel Noronha, que recorda com material de arquivo e testemunhos em primeira pessoa a utopia revolucionária dos anos 70 em Moçambique e a subsequente desilusão; Guerra de José Oliveira e Marta Ramos, sobre um ex-combatente assombrado por fantasmas do seu passado, que tenta seguir em frente com a sua vida enquanto carrega as memórias do horror; e finalmente, O Fim do Mundo por Basil da Cunha, uma ficção encarnada por não-actores, que tem em conta as idiossincrasias do desenho urbano de Lisboa e dos seus bairros marginalizados, onde os vestígios deixados por anos de desigualdade ainda se perpetuam. Os directores puderam também encontrar-se numa conversa com o pós-colonialismo como eixo, moderado por João Ribeirete, responsável pelos assuntos culturais na Embaixada de Portugal.
Será uma atividade com um filme português por dia, aberto à descoberta e à viagem, que funcionará como um convite para explorar um dos mais ricos panoramas do cinema contemporâneo.
Mais informação (em espanhol) disponível em: www.m100.cl/programacion/cine-portugues/
Apresentação de imagens dos filmes exibidos na Semana de Cinema Português 2021: